quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Por que o metrô do Recife não cresce?

ÚItima expansão do sistema metroviário aconteceu em 2009 / Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

ÚItima expansão do sistema metroviário aconteceu em 2009


A resposta para a pergunta-título desta reportagem é simples: não cresce como deveria porque não há decisão política para expandi-lo. O transporte coletivo sobre trilhos nunca foi prioridade dos gestores públicos de Pernambuco, sejam estaduais ou municipais, responsáveis por defendê-lo junto ao governo federal, maior viabilizador de recursos para projetos de mobilidade. Essa é a leitura de metroviários, gestores públicos, entidades nacionais de defesa do modal, passageiros e apaixonados pelos benefícios do transporte sobre trilhos - metrôs, trens urbanos ou regionais, monotrilhos e veículos leves sobre trilhos (VLTs).

Os números do metrô do Recife comprovam que tanta indiferença não se justifica. O número de usuários vem crescendo cerca de 50% ao ano, mas, mesmo assim, a expansão do sistema continua sendo ignorada. O metrô passou 17 dos seus 30 anos de operação sem qualquer ampliação, apenas com os 25,2 quilômetros iniciais da Linha Centro, subdividida em dois ramais - até Camaragibe e até Jaboatão dos Guararapes. Apesar de estar sendo utilizada por 280 mil passageiros/dia, sua última ampliação aconteceu em 2002, com o prolongamento até Camaragibe. Este ano, devido à necessidade de acesso à Arena da Copa, resgataram a construção da Estação Cosme e Damião. Mas parou por aí. A criação da Linha Sul, também uma adaptação da ferrovia, foi mais emblemática por ter enfrentado inúmeros obstáculos e paralisações. Onze anos de obras para construir apenas 14 quilômetros do ramal, até hoje incompleto, sem todos os terminais integrados previstos.

Um lento crescimento, apesar de o trecho que liga o Recife à Zona Sul da RMR ter deixado de ser patinho feio, quando transportava apenas cinco mil pessoas, para virar um cisne, com um crescimento de demanda que duplicou nos últimos dois anos, chegando a 80 mil passageiros. “Vivemos o lobby do ônibus”, critica Diogo Morais, presidente do Sindmetro. A importância do sistema no transporte da população foi percebida na semana passada, quando os metroviários fizeram uma paralisação de 24 horas. Há alguns anos, a ausência do metrô não era tão sentida - quem vive o setor sabe disso. Mas os tempos são outros e a quantidade de passageiros não é mais tão fácil de ser absorvida pelos ônibus. Na última paralisação, para transportar os 360 mil usuários do metrô seriam necessários 450 ônibus a mais nas ruas. O Estado conseguiu colocar menos de 80 coletivos de reforço.

Com a Copa do Mundo, o metrô recebeu R$ 100 milhões para a aquisição de 15 novos trens e VLTs, mas a expansão do sistema sequer é discutida no Estado. Enquanto isso a população sofre. Além da redução de tempo nas viagens - porque não enfrenta congestionamentos -, argumentos não faltam para que gestores e políticos se convencessem de que o sistema sobre trilhos é o melhor e mais eficiente tipo de transporte para altas demandas, cada vez mais necessário nos grandes centros urbanos. O custo de implantação, como sempre, continua sendo citado como o principal obstáculo. “Ele é alto, mas compensa. A capacidade de transporte do metrô ou de um VLT, por exemplo, é muito maior que a de um ônibus. São mais rápidos, mais confortáveis, poluem menos e são mais seguros. Por tudo isso, é o tipo de transporte que mais exerce atrativo sobre a classe média. Agora, uma rede de metrô passa por planejamento a longo prazo. São 20 a 30 anos de perspectiva, crescendo quatro, cinco quilômetros por ano”, ensina Bartolomeu Carvalho, gerente regional de manutenção do metrô do Recife.

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